domingo, 19 de fevereiro de 2017

Por que Dínamo?


Já havia acontecido a partida de estreia, aquela retumbante goleada não havia nos desmoralizado, entramos ao campo do Vira-cópos sorrindo e saímos no mesmo clima.
No caminho de volta, falei que ia vender o nosso goleiro Elizeu pro exterior e ficaram todos a esperar que eu completasse o pensamento:
_Vou mandar ele pro Afeganistão, essa pereba.
Não se ofendeu o menino, em campo havia sido um monstro, sorriu com os amigos, ao meu lado, o meu vizinho Alex me disse que sempre fora discriminado nos rachas da escola, por conta da sua baixa estatura, agora tinha um time pra chamar de seu, atrás de nós vinham, num abraço triplo, o Dener Alexandre Camargo Dos Santos, o Lucas Sócrates e o Cosme Teodoro, os outros se espalhavam ao meu redor, com exceção do Nando, que morava no João XXIII e do Chuchu, que morava na Eiras Garcia, o resto moravam todos na Osvaldão e eram alunos do Educandário Dom Duarte.
Muitos anos eu já lidava com futebol e, pela primeira vez, senti que o meu time estava formado, ainda não tinha nome, esse time.
Todos sabem que, em matéria de administração de times, sou avessa à ideia de democracia, mas caí no erro de convocar uma eleição pra escolher o nome pro time.
Como comandante, era meu direito inalienável, impor um nome e quem não gostasse, que caísse fora.
Se eu usasse desse direito, cairia na besteira de ser um comandante absolutista, absolutistas espalham o medo e pedem obediência e, como esse era o time que eu ia amar muito e ensinar sobre a liberdade, coloquei o nome à prova e deixei pra que todos aprendessem a gostar do nome.
Eu tinha um nome da minha preferência, reuni todos os meninos e os levei pra um terreno que ficava nas costas do bar do Mão Branca, entre as casas da Eiras Garcia e o córrego Bota frias, essa pequena faixa de terra, resultado de despejos constantes de entulhos seria o nosso centro de treinamentos e seria batizada de Morrão.
Quando entramos no terreno, havia três homens que portavam capacetes brancos e conversando entre eles, olhavam e mediam o terreno, levei os meninos ao centro e ainda não haviam as traves, mostrei-lhes o lugar e permiti que eles visualizassem o futuro, como eu o podia ver.
O que eles não podiam ver é, que eu os estava levando pra uma armadilha.
Beirando o córrego, havia uns montes de terra, esses montes serviam pra conter as águas em caso de enchente, isso mais tarde seria usado como arquibancadas, dali, eu comandaria um time que se tornaria uma lenda.
Pedi que os meninos se sentassem e, com boa vontade, se acomodassem eu iria fazer uma coisa que faço com maestria desde a infância, iria contar-lhes uma história que fora vivida no começo da segunda guerra mundial.
Num plano mais baixo, tinha a atenção de todos viajam pra gelada Alemanha de Hitler... existe um clube que tem entre seus jogadores, uma grande maioria de judeus.
Para mostrar ao mundo a tão decantada superioridade da raça ariana, é montado um time com os melhores jogadores do país, o tal time de judeus é convidado para o confronto e, se eles ousassem vencer a partida, seriam fuzilados.
Acontece que o futebol é praticado por homens de honra e, esses homens preferem a morte à desonra de entregar um jogo.
Diante da presença do ditador e sob o olhar do mundo todo, vão à campo e vencem a seleção ariana.
Todos, do roupeiro ao presidente do tal clube, são mortos... Essa é a história do Dínamo.
Quando termino essa narrativa, reparo que os homens que olhavam o terreno se haviam juntado aos meninos e, como eles, tinham dificuldades em conter as lagrimas nos olhos.
Deu-se o segundo jogo, mais uma derrota. No caminho pra nossa rua, o Alex cantava um refrão:
"Eu sou um guerreiro que sozinho bato em mil
Eu sou do Dínamo, o mais temido do Brasil ““...

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O Niltão sempre foi esquisito mesmo