quinta-feira, 2 de março de 2017

A supremacia do futebol feminino.



O escrete feminino foi, ao longo dos anos, o elenco que mais longe levou o nome do Dínamo, ninguém era profissional, longe disso mas, a paixão era administrada e sendo assim, fomos mais longe.
Entre goleadas, brigas e passeios, conhecemos a cidade toda e viajamos muito, fizemos jogos contra times que tinham como atletas, a base da seleção nacional e, não fizemos feio.
No entanto, a qualidade técnica não era o fator que mais ressaltava nesses eventos, o que sobressaía eram a organização do grupo e a amizade de todos, os colaboradores e a diretoria.
De ponta a ponta do mapa de São Paulo, o Dínamo era conhecido, mas, isso não era desculpa para não sermos humildes.
Numa tarde, me ligaram...a pessoa, no outro lado da linha se apresentou, disse o seu nome e perguntou se eu já havia ouvido falar dele.
_Rodrigues Neto?...claro que eu conheço, volante da seleção do Coutinho, jogador do Botafogo do Rio... claro que eu já ouvi falar.
Ele confirmou e acrescentou, que agora era funcionário da Secretaria de Mogi, ele e o ex-goleiro Valdir Peres eram responsáveis pela seleção de futebol feminino da cidade, disse que havia ouvido falar do meu Dínamo, perguntou se teria jeito de irmos para Mogi e participar de um festival de futebol feminino.
Sem pestanejar, aceitei o desafio: o time da cidade, quatro times das cidades vizinhas e, nós seríamos o time da capital...fechado.
Antes de desligar o telefone, ele disse que o Valdir havia mandado uma recomendação:

_Não venha com um time meia boca, pois todos os participantes são SELEÇÕES municipais.
Bom, ainda que, isso tivesse soado como uma ameaça, não passei pra ninguém, desliguei o telefone e avisei à diretoria, que iriamos viajar no domingo, já era quarta-feira.

Para esse evento, toda e qualquer forma de organização teria que ser superada, a questão "ganhar" teria que ser posta de lado, a ordem vigente era chegar ao Estádio Municipal de Mogi-Mirim.
Pela primeira vez na historia da agremiação, a organização superou as expectativas, levamos até comida, comida mesmo...arroz e feijão.
As meninas, para não perder a hora, ficaram alojadas, umas em minha casa, umas na casa da Adriana Dourado e outras na casa da Lucileia Ferreira

Acordamos às 3:00 da madrugada, tomamos café, reunimo-nos e pegamos o primeiro ônibus para o centro de São Paulo, às 4:30 horas, entre as atletas, a diretoria, os seguranças, os meus filhos e a torcida chegávamos à um numero de 40 pessoas, no centro embarcamos no trem, baldeamos e chegamos em Mogi, às 6:30 da matina, time completo e reservas.
Tudo perfeito, enquanto esperávamos a organização do torneio determinar as chaves e coisa e tal, observamos que a cidade tinha se tornado a capital mundial do amor...nas arquibancadas, nos vestiários, no gramado, muitos "casais" de mulheres se abraçavam e beijavam.

Antes de perguntar se havia sobrado um cafézinho, declamei um poema ao sol que nos iluminava e disse que a vida era bela.
Quando foi determinado, quem pegava quem, o Rodrigues Neto estava ao meu lado, nessa hora, o Valdir Peres chegou, passou por nós, sem sequer olhar para os lados, foi para uma parte da arquibancada, para orientar o seu time, (ops, time não, seleção).
Diante dessa cena, o Rodrigues Neto, muito constrangido, pediu desculpas em nome do sócio.

Eu sorri, um sorriso de escárnio e disse:
_Não esquenta não, quando isso acabar, ele vai ter razões para não me cumprimentar mesmo.
Quero fazer uma ênfase aqui, não foi por ele ser um ex-jogador de seleção, ou ser famoso, que aquilo foi sentido como uma ofensa, ex jogadores profissionais tem essa conduta mesmo.

O que me magoou nessa atitude deselegante foi o fato de existir uma lei de cavalheiros na várzea, que manda todo anfitrião cumprimentar e tratar com cortesia seus visitantes.
Como eu disse antes, a organização foi impecável e, com relação à futebol, isso nunca foi ameaçado, fizemos nossa parte, ganhamos todas as partidas, no jogo final a seleção da cidade nem viu a bola, nossa craque, a Adriana fez barba e cabelo, olhei paro pessoal do Butantã, que já estava de posse do troféu e senti um grande orgulho.

Na saída, passamos pelo Valdir Peres, que gritava com seu time, xingando-as pela derrota, quando notou que eu já saia, fez menção de ir ao meu encontro, na metade do caminho até mim parou, notou que eu olhei para o lado, percebeu que eu não queria cumprimentá-lo e voltou para o seu time.

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O Niltão sempre foi esquisito mesmo