terça-feira, 20 de abril de 2021

O Niltão sempre foi esquisito mesmo

 Sempre bonitão, gritava com seus atletas, xingava e nunca deu voz para ninguém e não conhecia a democracia, um verdadeiro ditador, o cara.

Mas, ressurge essa figura contraditória no ano 2.000 até 2010 na Pestalozzi de Camaçari.
Como professor de Educação Física, ministrava o handbol, basquete, atletismo, hóquei e futsal.
Nessa escola sempre usava o Dínamo para auxiliar e dava as aulas e as competições do modo usual, ou seja, gritando e xingando, porém, dessa vez os alunos riam a cada grito.

domingo, 18 de abril de 2021

O gol Diana

  Quando o Ademar da Silva surgiu no Dínamo, trouxe a alegria que o time precisava, seu jeito desengonçado e o seu total descompromisso com a seriedade, trouxe um elemento que, até então, não conhecíamos.

No meio de uma partida, era possível ver os meninos conversando entre si, em muitas vezes, rindo de piadas.

Se o Alemão partia em diagonal numa velocidade impressionante, o Ademar fazia lançamentos milimétricos de 40 e 50 metros, pura magia.
Em cada jogo, a camisa listrada, doada pelo Vô, ia se encolhendo...os meninos em fase de crescimento, se esticavam, rasgavam a camisa, a Angela costurava e ela ia diminuindo.
Todo bom elenco, tem uma musa, nesse tempo, a pequena , que jogava no elenco feminino, tinha a graça e o encantamento, isso e o fato de ser guerreira dentro de campo, faziam dela a menina preferida entre o atletas do Dínamo.
Num dia de treino, o Ademar anunciou que ia fazer o GOL DIANA, à princípio ninguém levou à serio, passaram-se os dias e o Pézão que em campo, lembrava o Rivaldo, não marcava, conta-se 3 partidas, todo mundo fazia gol, menos o Ademar, fazia partidas brilhantes, dava passe capitais e, não fazia nenhum gol.
Numa tardinha morna, no campo do Estrela, ele entrou em campo com a ideia fixa, nesse dia a musa foi assistir o jogo, posto que, o seu irmão James, jogava no time.
O Parque Ypê, já ganhava a partida, depois de varias derrotas sofridas contra o nosso "Carrossel", eles jogam na retranca, com os 10 da defesa, isso não permitia que o Alemão arrancasse, numa bola disputada o Alemão, por não ter opção de ataque, ciscou e voltou a bola pro
Lucas Sócrates
, esse procurou alguém desmarcado e não viu ninguém, o Ademar estava na linha que dividia o campo, o Lucas voltou-lhe a bola pelo alto, com uma habilidade invejável, matou-a no peito, olhou para o gol, a área lotada, a bola desceu ao solo, todos os olhos fixos nele, com calma levantou-a do chão, os marcadores se apressaram em marcar, o Alemão e o Dener, correram para se posicionar, a bola subiu uma vez mais, todos esperavam o lançamento, ele girou o corpo e bateu com força, a bola ganhou altura e descreveu um longo arco, atravessou a área, fora do alcance de todos, não havia outra solução, além de seguir a bola, o goleiro levantou a mãos e nada pode fazer, na força que ela vinha, pegou a rede no começo do travessão e a estufou, uma pintura.
Com o aplauso dos dois times e da torcida o Ademar foi ovacionado.
Esse foi o gol mais lindo do ano de 1993.
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Malandro é o meu gato

Já estava me preparando pra me despedir da zona Leste, de malas prontas, em pouco tempo, iria para a Chácara Bela Vista.

Normal, que nesse tempo eu tivesse dado uma pausa nas atividades esportiva, portanto, deixei o Dínamo em espera.

Foi nesse tempo, que me convidaram para cuidar do primeiro quadro do Unidos do Morro, aceitei o convite, pra provar(pra mim mesmo) que não era um treinador do infantil, posto que, algumas pessoas, assim me rotulavam.
Acompanhei o time, durante duas partidas, pra estuda-lo.
Convoquei pra minha assistente, a inoxidável
Alessandra Zaffani
, pra me acompanhar nessa aventura.
Assistimos as partidas e, observei que, apesar de ser muito forte, em termos de valores individuais, não tinha qualquer noção de continuidade e padrão de jogo.Apesar de ter o
Tchesco Nascimento
e seu irmão Carlos Alberto no meio de campo, faltava organizaçao e, apesar de começar ganhando os jogos, terminava cedendo o empate e terminava por perder os jogos.
Ah, ainda tinha o problema de hierarquia, todo mundo se julgava apto a comandar.
Logo que cheguei, pude ouvir, de um dos jogadores do segundo quadro, a seguinte piadinha:
_O que um técnico de crianças veio fazer aqui??pilhéria, que eu fiz não ter ouvido...melhor mostrar, que bater boca.
Bom, ficou combinado que eu assumiria o comando na terceira partida e, seria num festival em Carapicuiba-SP, na Cohab 5, contra o imortal Avaí.
Bem...quem não sabe nada da Várzea de São Paulo, não faz a menor ideia do que eu estou falando, o citado time já era grande, quando nos anos 70, a Copa Kaiser, ainda era chamada de "Desafio ao Galo" e, era transmitida pela Rede Record, com narração de fausto Silva, todo domingo. de manhã.Isso...e, estava eu, na primeira e maior Cohab do Brasil, no campo do "BICHO PAPÃO", faziam 8 anos que o primeirinho deles não sabia o que era derrota.8 anos sem perder pra ninguém.
Técnico de crianças ???fica aí !!!
Logo ao chegar, fomos recebidos com vaias e intimidações.
Olhei para a Alê e ela estava tranquila, sempre me impressionou isso nessa menina, em casos que muitos homens afinavam, ela pelo contrário, se impunha...a espetacular Alê.
Infelizmente, as pessoas não estudam os adversários, eu era a unica pessoa que conhecia a historia do Avaí, o segundinho entrou em campo e, jogou, de igual pra igual.
Melhor dizendo...tentou jogar (na verdade, nem viu a cor da bola)quando caminhávamos para o vestiário, encontramos os jogadores do segundinho, vindo cabisbaixos e o técnico gritou:
Esse nós ganhamos de 8 x 0, o primeiro vai de 16, disse isso e cutucou meu peito com o polegar, se eu estivesse na minha casa...mas eu estava na Cohab 5, tranquilamente olhei pra arquibancada, que esperava a reação: Bom nesse caso, a gente já pode ir embora, né??? Voces já ganharam e o jogo nem começou.
Como quem se sente contrariado, o cara saiu da frente e me deixou entrar no vestiário.
Lá dentro encontrei um time totalmente apavorado, uma bagunça, todo mundo falando ao mesmo tempo, só uma pessoa estava calma, o tal do Tchesco e, como ele me conhecia, estava esperando eu entrar em ação.
Pedi que me ouvissem, continuou a balburdia, pedi atenção de novo, nada.O Tchesco estava sentado e agora ria, havia uma cadeira na minha frente, dei-lhe uma bica, a cadeira voou e chocou-se contra a parede, os jogadores se assustaram e voltaram a atenção.
Só quem fala aqui sou eu, estamos entendidos ???e como ninguém se manifestou, continuei...O grande problema aqui é o seguinte:
_Todo mundo vem aqui, pra encarar esse time de nível profissional e, nós não somos profissionais, nós temos a pretenção de ser...então vai ser assim...excepcionalmente hoje, nós somos 10 volantes e 1 goleiro, defendemos o jogo todo e, quando chegar a hora eu aviso.
Basicamente era isso, nós iriamos defender, o time todo, o tempo todo e, eu tinha um trunfo na manga.
A Alê já me esperava no banco, pedi que atualizasse o relógio e me falasse a cada 5 minutos, subitamente me aparece o dono do time, o Gavião dizendo que apenas o técnico, mais 1 pessoa poderiam permanecer no banco de reservas.
Na lata, eu disse tchau(de que iria me servir um presidente do meu lado???)
E, assim o Dínamo tomou o "comando" do Unidos do Morro...dois no campo e dois no banco.
Começou o jogo, do jeito combinado, os caras jogavam muito mesmo...gritaram que o trio de meio-campo era da Associação Atlética Ponte Preta, mas o nosso time defendia e, tome bola pro mato.(Já viu esses times que o lateral esquerdo vira a bola no peito do lateral direito e vice-versa?)Acontece que o meu time gostou de fazer isso, teve uma hora que o nosso centro avante estava dando combate ao lateral adversário, na nossa área.
Primeiro a torcida fez piada, chamou o nosso time de fazendeiros, eles tocavam a bola e nós a mandávamos pra fora.
Acabou o primeiro tempo e fomos para o vestiário rindo, a empáfia deles já não era a mesma.
No vestiário todos fizeram silencio, pra me ouvir:-Muito prazer, meu nome é Nilton, a gente vai continuar jogando do mesmo modo, somos visitantes, quem tem obrigação de ganhar é o dono da casa, quanto mais o tempo passar, mais a obrigação de ganhar vai apertar a vaidade deles, e...até a hora que eu mandar, a gente não muda.
Fechamos para gritar o nome do time e, já era outro time, um time com alma...o Tchêsco, ainda sorria.
Na saída do vestiário, o Gavião, por trás do alambrado me disse:-Tô começando a entender o que voce está fazendo, voce é malandro.
Antes que a vaidade me dominasse a Alê me socorreu, só o fato de ela estar lá, já me lembrava que eu era técnico do Dínamo, que significava "humildade", ela esfregava as mãos, como se antecipasse uma historia repetida, brilhavam, os olhos dela.
Começo do segundo tempo, empolgado com o desanimo do time da casa, nosso time vacilou, e o que parecia impossível aconteceu, eles fizeram um gol, e, por incrível que possa parecer, isso estava nos meus planos.Enquanto o nosso time levava a bola pro meio de campo, visualizei o Tchêsco e acenei com a cabeça, até aquele momento, nosso time mal tinha passado do meio de campo e, ninguem marcou o Neguinho, ele recebeu a bola e pariu em diagonal, com 3 toques, ele já estava na cara do goleiro, o goleiro que, durante a partida toda não tinha tocado na bola saiu, mas era o Tchêsco, quando o goleiro saiu a bola já lhe havia coberto.
Jogo empatado.
Quanto mais o tempo passava, mais vergonha crescia e, tome bola pro mato.
Silencio na torcida, ainda que com um certo medo, os caras do segundinho torciam, medo porque estávamos na Cohab 5, os últimos minutos de jogo foram mais calmos, já que o folego deles acabou-se, era cômodo, pros dois time que a coisa fosse mesmo para os penaltes, e assim foi.
Nosso time já comemorava como se fosse vitória e, só aí apareceu o truque na manga...O goleiro Marcio, podia não ser grandes coisas como goleiro, era mesmo medíocre, mas, pra pegar penaltes, não tinha melhor.
Depois 8 anos de reinado, o grande Avaí de Carapicuiba
caiu.
O Unidos do Morro começava a ganhar um padrão de jogo, tive a grata satisfação de saber que o time do Gavião subiu tanto que conquistou a Copa Kaiser.
E pensar que tudo começou com um técnico de crianças, né !?!

Uma mentira não faz mal

  Dir-se-ia que a mentira é um dos pecados capitais, ninguém vai abertamente dizer que o uso dela é recomendável, de fato ela é um grave deslize de caráter e traz consequências irreparáveis, mas, existem casos e momentos que a verdade dita não é recomendável e, assim aconteceu:

Quando marquei uma partida, que valia troféu contra a seleção de Sapopemba, já vieram duas mentiras embutidas nessa ligação, a moça não disse se tratar de uma seleção, somente um time comum de bairro, a segunda mentira saberíamos no endereço marcado.
Atravessamos a cidade de São Paulo de terminal em terminal, saindo do extremo da zona oeste e chegando à zona leste, exatas três horas de viagem, um clube pequeno de periferia, no primeiro andar, acima da quadra de futsal havia uma churrascaria e era um domingo de muito calor, dentro da quadra abafada a temperatura ia aos 50 graus fácil.
Endereço certo e adentramos a arena, as adversárias assim que avistaram nosso time sorriu, comparadas ao nosso time, elas eram desproporcionalmente maiores, cada marra de mulher que se podia medir por arroba, nossas meninas coitadas mirradinhas, fazia dó mesmo.
Na preleção do evento escolhemos um lugar na arquibancada e nos juntamos, as meninas, os filhos, a comissão técnica e os acompanhantes, fui ter com o organizador do evento e descobri que se tratava de uma seleção paulista e, na verdade, eram dois times que teríamos que enfrentar, pela regra da várzea esse seria o compromisso que assumimos sem saber, a segunda mentira.
Ia voltando para o time na arquibancada, onde as meninas da casa, visivelmente em vantagem de estatura, hostilizavam as visitantes, resolvi encaminhar-me ao setor da bocha, queria colher informações sobre o que eu iria enfrentar, esses veteranos costumam saber tudo sobre o clube.
Dos senhores tive todas as informações, que eram essas:
Essas, donas da casa mantêm um recorde de vitórias, 4 anos sem perder para ninguém, todo time que as desafia, sofre goleada.
De quebra, recebi um conselho:
_Eu, no seu lugar, voltaria para o lugar de onde saiu.
O senhor mais velho de todos me disse isso na lata mas, me segredou um pormenor:
_Apesar disso, elas não são muito queridas pela torcida, se é que me entende.
Me despedi dos senhores e voltei para o meu canto, com o meu escrete, cerca de trinta segundos, o tempo suficiente para um plano.
Assim que me sentei na arquibancada, diante dos olhares aflitos das minhas meninas, passei as informações arrecadas, palavra por palavra que me foi passada:
_Bom, apesar das caras feias e da falta de educação dessas monstras, o futebol delas é medíocre, vocês acreditam que elas jamais venceram uma partida???
Subitamente a expressão de medo das garotas do Dínamo desapareceu, sorrisos largos e uma ponta de pena do time da casa.
Quando passei-lhes a informação de que teríamos que jogar duas vezes foi uma festa, feito todas as categorias, as meninas não fugiam à regra, todos fominha.
E depois que dividi o time em dois adentramo a quadra, as meninas sem saber que entrariam numa armadilha e eu, sonso, com um plano traçado.
O juvenil, que na várzea é chamado de segundinho, vencemos fácil, porém, no decorrer da partida, eu trocava uma atleta forte por uma regular, nosso time perdia no rendimento, então voltava o alto nível, quase no fim do jogo a torcida delas era nossa, alguns gritos de admiração ao time visitante se ouviam, primeiro troféu na mão.
O jogo principal, calor insuportável e do outro lado o bicho papão, nossa craque
Adriana Dourado
mede um metro e sessenta, a mais baixa do time adversário media dois palmos a mais que isso, no começo da partida ela sai costurando pela quadra, dribla o time todo, tira a goleira de lado e toca para a Arlete sem ninguém para defender, depois dessa, se ainda havia algum torcedor relutante, essa entra na festa.
Magicamente a torcida faz parecer que o Dínamo era o time mandante, elas tem um incrível volume de jogo mas, o nervosismo da torcida contra as atrapalha, esquecem a tática e partem para a violência, caçam as nossas atletas na quadra, o árbitro é da casa e é complacente, marca as faltas mas, não adverte nem mostra cartões.
Olhando o relógio na parte superior da parede central da quadra, peço tempo à mesa, faltam cinco minutos apenas, tenho um último trunfo na manga, uma última mentira.
Minhas meninas estão exaustas, 7 x 7 no placar, todas querem ouvir:
_Adriana, a próxima falta que você sofrer, por mais leve que seja, caia como se tivesse quebrado um osso.
Reinicia o resto do jogo, o time da casa muito mais cansado que o nosso, parece satisfeito com o empate mas, a Adriana não quer colaborar com elas, finta duas e chama as outras para o olé, falta nela.
A Adriana se contorce simulando uma dor insuportável enquanto é carregada, senta-se ao meu lado, mando a Cris entrar em quadra.
A torcida pede justiça e xinga o time da casa, sabendo que a Adriana não vai voltar, tocam a bola, toque ensaiado.
O relógio agora está zerando o tempo regulamentar, me levanto do banco e grito:
_Sai Cris.
Quando elas perceberam que a Adriana estava de volta era tarde demais, do lado da defesa ela dominava a bola, partiu em diagonal e fintou as quatro da linha, ajeitou o corpo e desceu a castanha na goleira, assim que a bola escorreu na rede a sirene tocou.
O bicho papão do Butantã levou mais dois troféus para a sua casa.

sábado, 17 de abril de 2021

Da primazia

  No sábado, logo após a chacina da Candelária, no campo do Estrela o time do Dínamo exigiu que se observasse um minuto de silencio, antes do jogo, ninguém entendeu...agora isso é moda.

A bandeira do Dínamo, foi idealizada por mim e pintada pelo Berruga em 1993.
As palavras fazem alusão à revolução Francesa e o triangulo homenageia a inconfidência mineira.
Estranhamente, anos depois apareceu uma torcida do Rio de Janeiro, que tem um triangulo no meio de 3 palavras...coincidência.

E, ainda tem uma torcida organizada em São Paulo, que desde 1995, usa 3 palavras para se definir.

Os colaboradores

 Dos colaboradores parte 2

O Klebão tinha sempre, em seu bar uma foto de escalação do Dínamo, ela ficava na parede da entrada e foi ele mesmo, com a ajuda do Edgar, quem nos deu a primeira camisa patrocinada...duas camisas da Zannet calçados.
Foi o Berruga quem pintou a primeira bandeira do Dínamo, esse símbolo, ele transferiu para o escudo das camisetas.
Quando tivemos a necessidade de comprar nosso próprio uniforme, realizamos um festival no morrão.Oito equipes da região compareceram para nos prestigiar, eram fragmentos de equipes rivais, como o Bragantino do Arpoador, o Só nóis do João XXIII e o Atlético da Cohab Educandário.

Os meninos serviam a água, apanhavam a bola no rio eu e a Arlete Sales apitávamos os jogos.No final do festival, compramos 3 camisas do Joel.
O Shêpa, que era volante do juvenil, roubou o elenco feminino do Atlético, fazendo do futebol feminino do Dínamo, o time mais lindo da região.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Um prelúdio

 Todo mundo sabe da minha paixão pela Alessandra Zaffani, que arrasto 10 caminhões ou mais pelo seu sorriso, ah... todo mundo sabe disso.

Não essa paixão carnal, edípica e mundana que se sentem, atraídos os homens pelas mulheres. Meu carinho pela moça é espiritual, quando a vi pela primeira vez, senti que já a conhecia de vidas passadas e, ainda que minha alma pulasse de alegria, meu cérebro só conseguiu produzir uma frase:
_Essa moça tem que vestir o azul sagrado do meu Dínamo.
Dona de um sorriso hipnotizador e olhos castanhos quase verdes, a menina foi um prelúdio num tempo caótico, como se, no meio de todo horror da guerra, alguém parasse pra ouvir uma linda canção.
Já despontava o escrete feminino do Dínamo, como um grande time, a Osvaldão já nos havia dado a goleira Angela, a Arlete Sales, a Adriana Dourado e a Diana, lá do lado das Tintas Wanda vieram a Mazé, a Cacilda e a Tânia, da COHAB Raposo vieram as irmãs Clemente... Edcléia e Sandra e meu amigo Francisco do Palmeirinhas mandou as guerreiras do João XXIII, a Viviane (Rincó
n), a Sandra Ambrosio, a Mirna e a Adriana Chin., muito poder de fogo e uma torcida fiel, em qualquer lugar que se fosse, eramos bem recebidos.
A ânsia de crescer gerava o desconforto de ganhar sempre e isso gerava um conflito interno, aos poucos, foi-se perdendo a ternura, faltava-nos algo que não conseguíamos identificar e a coisa crescia.
Integrante da comissão técnica, o
Júlio Martins
(Shêpa) disse que havia um time na COHAB Educandário e marcou um jogo contra, o Joel, velho rival dos jogos do infantil comandava as meninas.
Havia chovido no sábado de manhã e de tarde o campo do Palmeirinha não podia ser usado, subimos pro campo do Estrela que ficava ao lado deste.
Nunca fomos bem recebidos nesse campo e, por conta disso, eu sempre ficava irritado, no campo se ajustavam o Dínamo em seu uniforme todo azul da Zanetti e o Atlético da COHAB, que vestia branco com detalhes vermelho e o que chamava a atenção era a beleza de algumas das jogadoras do outro time e geralmente com esses times, a goleada era inevitável.
Quando a menina vinha com a bola na mão pra cobrar o arremesso lateral, ficou de frente comigo e deu-se o desmantelo.
De súbito, a irritação deu lugar ao contentamento e a paz, feito quem vê uma alma conhecida.
_Shêpa, essa moça... quem é?
_Essa é a Alê, minha amiga, estuda no Educandário Dom Duarte e mora no meu prédio.
Nos dias seguintes, virou uma obsessão tê-la ao meu lado e lancei mão de recursos não ortodoxos para isso.
Tive informações de que o Joel estava se tornando viciado e, tendo dinheiro pra comprar um uniforme novo na loja, usei-o para comprar todos os uniforme do Atlético e, pra falar a verdade, o Dínamo nem carecia de uniforme novo.
Com dinheiro na mão e sem roupa, o técnico se desfez do time e, como era o meu plano, o Shêpa assumiu o comando das meninas.
Aos poucos, as meninas da COHAB Educandário passaram a integrar o elenco do Dínamo.
A paz se fez, o time agora era poderoso e lindo.
A moça de lindos olhos castanhos, quase verdes, agora embelezava o azul sagrado do meu Dínamo.

O Niltão sempre foi esquisito mesmo